A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) traça um cenário do impacto da pandemia do Covid-19 para o agro, a partir de levantamentos periódicos de informações sobre o cenário interno e externo.
No dia 11 de março a OMS decretou Pandemia do novo coronavírus. Desde estão os estados e o governo federal têm adotado medidas emergenciais para conter a disseminação da doença no País. Com o intuito de garantir o abastecimento de alimentos para a população e garantir que os produtores irão continuar produzindo, a CNA criou um grupo para monitorar a crise do Covid-19. A análise desses primeiros dias segue nesse boletim.
Mercados
China
O escritório da CNA em Xangai não identificou interrupção de importações de bens agropecuários devido à pandemia da Covid-19. Mas o cancelamento de rotas marítimas já resulta em atrasos no transporte internacional.
O escritório também apurou que comércio de grãos, óleos e alimentos registrou aumento de 9,7% entre os meses de janeiro e fevereiro de 2020 – apesar da queda das vendas totais do varejo em 20,5% nos dois primeiros meses do ano. A “corrida” dos consumidores aos supermercados é a provável causa do aumento das vendas de itens básicos para a dieta chinesa. As vendas de alimentos online também cresceram 3% no mesmo período.
União Europeia:
Ainda sem impactos expressivos no comércio com o Brasil. Hoje as medidas restritivas estão muito mais focadas na redução da movimentação de pessoas do que na circulação de mercadorias.
Estados Unidos:
Assim como na UE, ainda não se percebeu nenhum impacto no comércio. O governo norte-americano tem tomado medidas mais focadas na saúde das pessoas e garantiu que a produção de alimentos não para;
Arábia Saudita:
Houve aumento de demanda por fornecedores brasileiros para suprir o mercado interno.
Exportadores brasileiros e importadores relatam atraso na liberação de cargas no porto de Gidá. Aparentemente, o controle portuário está mais rígido.
Produtos
Paraas principais commodities agrícolas, como soja, milho e café, houve queda nos preços internacionais. No entanto, em função da alta do dólar, os preços reais não foram impactados. Para o setor sucroenergético e o algodão, o maior problema foi a guerra do petróleo entre Rússia e Arábia Saudita, que derrubou os preços nestes setores.
Frutas
A demanda por frutas e hortaliças nos supermercados cresceu de 20% a 30% nos primeiros dias de intensificação da pandemia. A comercialização no varejo representa em torno de 53% das movimentações desses produtos. Por outro lado, a procura em redes de fast food, bares e restaurante caiu drasticamente. Com a ordem de fechamento em grandes cidades, espera-se que demanda recue a níveis nunca vivenciados pelo setor.
Flores
A intensificação da crise poderá colocar em xeque o desempenho do setor. No caso das flores de vaso, comercializadas principalmente nos supermercados, houve redução de 50% na demanda. No caso das flores de corte, a redução já supera 70% devido à proibição massiva de grandes eventos, redução da circulação e mesmo pela alteração momentânea do padrão de consumo das famílias, que passam a priorizar bens básicos em momentos de crise.
Boi gordo
O mercado do boi gordo iniciou a semana com pressão dos frigoríficos, reduzindo os valores ofertados em relação à semana anterior. Mas por falta de negócios na segunda, o indicador Cepea se manteve estável.
Ao longo da semana , poucas negociações ocorreram, derrubando a cotação. Com isso, a escala dos frigoríficos foi reduzida, forçando a elevação dos preços na quinta e na sexta.
Os três maiores frigoríficos anunciaram férias coletivas em alguma das suas unidades, fator que deverá pressionar a cotação na semana que vem, data que as plantas efetivamente irão interromper suas atividades.
Aves e suínos
Ao contrário dos frigoríficos de bovinos, as plantas de aves e suínos garantiram que não vão interromper sua produção. Mas a queda no food service preocupa. As empresas já sentiram queda de 10 a 15% nos pedidos. Por outro lado, os pedidos das redes de atacado e varejo aumentaram. Na parte da exportação, a falta de contêineres tem dificultado as vendas de proteínas animais.
Aquicultura
A queda no consumo do food service preocupa a cadeia da aquicultura. A comercialização de camarão, por exemplo, teve queda de 80%, mas aumentou 20% nas vendas no varejo.