O Conselho Monetário Nacional (CMN) aprovou a prorrogação de medidas emergenciais para o crédito rural anunciadas no início da pandemia, que estavam com prazos vencidos ou próximos de expirar, além da redução dos juros para agricultores familiares prejudicados pelo “ciclone bomba” na Região Sul.
É o que mostra o boletim semanal da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), que analisou o comportamento do setor do agro no período de 27 a 31 de julho frente à pandemia da Covid-19.
Dados do novo Caged divulgados pelo Ministério da Economia revelam que a agropecuária é o único setor da economia com resultados positivos na geração de postos de trabalho no 1°semestre de 2020, com 62,3 mil vagas, enquanto no resultado geral houve fechamento de 1,1 milhão de empregos.
As exportações de frutas em julho apresentam sinais de ampliação com a retomada do consumo nos países desenvolvidos e o aumento do número de voos. Nas quatro primeiras semanas, o embarque de frutas e nozes não oleaginosas em volume foi 13% superior em relação ao mesmo período de 2019. Por outro lado, a receita cambial caiu 12% em função do aumento de oferta e da queda dos preços.
No cenário internacional, China, Austrália, Japão, Hong Kong, Reino Unido e Espanha fizeram alertas quanto a uma possível nova onda de contaminações pela Covid-19. Estados Unidos e Alemanha sentiram os efeitos da pandemia na economia. Já a Coreia do Sul questionou a possibilidade de contágio do coronavírus pelas embalagens de carne e a queda demanda por chocolate afetou as cotações do cacau.
Uma boa notícia no setor de pescados. A China habilitou três plantas brasileiras para exportação do produto para o país asiático.
Geração de empregos
Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgados nesta semana pelo Ministério da Economia, revelam que a agropecuária é o único setor da atividade econômica com resultados positivos em termos de geração de postos de trabalho no 1°semestre de 2020. Foram 62.633 vagas a mais no acumulado entre janeiro e junho de 2020, enquanto o país como um todo fechou 1.198.363 vagas no período. Saiba mais.
Crédito rural
O Conselho Monetário Nacional (CMN) aprovou nesta semana a prorrogação de medidas emergenciais relacionadas ao crédito rural que haviam sido anunciadas no início da pandemia de Covid-19, mas que já estavam com prazos expirados ou próximos de expirar. Veja o Comunicado Técnico.
As principais medidas foram:
– Aumento prazo para prorrogações de financiamento. Anteriormente, produtores que tiveram perdas em função do COVID-19, podiam prorrogar o pagamento de parcelas vencidas ou vincendas no período de 1º de janeiro de 2020 a 14 de agosto. Com a publicação da resolução nº 4.840/2020 do Conselho Monetário Nacional, esse prazo foi estendido para 14 de dezembro;
– Admitir que a instituição financeira possa considerar o indicador de preços de algodão em pluma Cepea/Esalq como valor de referência para o Financiamento Especial para Estocagem de Produtos Agropecuários (FEE) aos produtores de algodão, em operações contratadas até 15 de outubro de 2020, ao amparo de recursos controlados do crédito rural. Essa medida complementa o disposto na Resolução 4.824/2020-CMN, que elevou de R$ 4,5 milhões para R$ 32,5 milhões o limite de financiamento para estocagem, devido às dificuldades de fechamento de contratos e de escoamento da produção ocasionadas pela pandemia.
O CMN aprovou ainda novas medidas em apoio aos agricultores familiares:
– Elevação dos limites de crédito de Industrialização para Agroindústria Familiar (Pronaf), por beneficiário, para o ano agrícola 2020/2021:
I – Pessoa física: de R$45.000,00 para R$60.000,00;
II – Empreendimento familiar rural – pessoa jurídica: de R$210.000,00 para R$300.000,00;
III – Cooperativa singular: de R$15.000.000,00 para R$20.000.000,00;
IV – Cooperativa central: de R$30.000.000,00 para R$40.000.000,00.
– Autorização aos agentes financeiros para que os agricultores familiares enquadrados no Pronaf, cujas atividades foram prejudicadas pelo “Ciclone Bomba” que atingiu a região Sul entre os dias 30 de junho e 1° de julho de 2020, possam acessar o crédito de custeio e investimento com as taxas de juros mais baixas aplicadas ao programa (2,75% a.a.), no decorrer de todo o ano agrícola 2020/2021. Para se beneficiar da medida, os municípios afetados devem ter decretado emergência ou estado de calamidade pública.
Também nesta semana a CNA a Federação Brasileira de Bancos (FEBRABAN) lançaram o “Guia sobre Venda Casada” para orientar produtores rurais e instituições financeiras sobre como coibir a venda casada em operações de crédito rural. O material reúne uma série de perguntas e respostas sobre o tema. Acesse o guia aqui.
Hortaliças e frutas
O Mato Grosso do Sul planeja realizar a primeira Feira Segura no estado no início de agosto, no município de Três Lagoas, nas modalidades presencial e drive trhu. A iniciativa contará com pelo menos 15 produtores rurais que irão ofertar hortaliças, frutas e outros produtos.
As exportações de frutas em julho de 2020 já apresentam sinais de ampliação diante da retomada do consumo nos países desenvolvidos e aumento do número de voos. O volume de frutas e nozes não oleaginosas exportado nas quatro primeiras semanas já é superior (+13%) ao que foi exportado no mesmo período de 2019. No entanto, a receita cambial foi menor em 12%, principalmente em função da maior oferta e, consequentemente, dos menores preços.
Flores
O comércio de flores e plantas ornamentais melhora com o aumento na procura, especialmente aquelas para decorações. Com isso o mês de julho já registra um crescimento de 25% na oferta de flores em relação a junho.
Commodities
No setor sucroenergético, a demanda por etanol está em recuperação, dando sustentação a pequenos ajustes de preço no mercado spot. Já o açúcar continua com cotações em alta no mercado externo pelo reaquecimento da demanda e pela oferta menor dos principais concorrentes brasileiros. Já no mercado interno, o preço mantém-se estável, com compradores abastecidos e aquecimento da economia ainda tímido.
Na cafeicultura, consultorias divergem sobre o andamento da safra, mas é consenso que a colheita já ultrapassou os 60% da área. No entanto, mesmo com o avanço da colheita e mais disponibilização de café no mercado, os preços não apresentam sinais de queda.
Diante do otimismo do setor em relação aos impactos da pandemia, em Nova Iorque, o Contrato C abriu a semana acima dos 107 cents/lb e sustenta cotações acima de 115 cents/lb para o fechamento da semana. As altas estão impulsionando a comercialização das safras futuras, bem como favorecendo a relação de troca para a aquisição insumos.
Já no mercado físico, o indicador Cepea aponta preços superiores a R$540/saca de 60kg para o café arábica e R$365,00/saca para o café conilon. Mesmo com a pandemia, o mês de julho apresentou a maior média de preço dos últimos cinco anos em valores nominais, 18% superior aos preços praticados em 2019.
Para a soja, os preços na Bolsa de Chicago apresentaram recuos ao longo da semana diante da menor compra chinesa. As baixas foram intensificadas pelas especulações sobre as condições meteorológicas nos EUA, que apontam perspectivas de boa safra de grãos.
No mercado interno, os preços continuam firmes. O foco permanece na disputa pela pouca soja da safra anterior ainda disponível para comercialização e na demanda intensa, o que puxa atenção para os prêmios, que continuam subindo em ritmo forte no país.
O milho apresenta pequenas variações dos preços no mercado físico, que ainda continuam em bom patamar, sustentados pela demanda aquecida. A queda do dólar, o avanço da colheita da segunda safra e as condições climáticas favoráveis na safra americana não foram suficientes para pressões baixistas mais intensas.
Entre as medidas anunciadas pelo CMN esta semana, está a ampliação do número de municípios e de produtores beneficiados pela medida que autorizava as instituições financeiras a renegociarem as parcelas e as operações de crédito rural de custeio e de investimento, vencidas ou vincendas no ano de 2020, contratadas pelos produtores rurais e pelas cooperativas que tiveram prejuízos em decorrência da seca ou da estiagem em municípios do Sul, com decretação de situação de emergência ou estado de calamidade pública.
Aves e suínos
O aquecimento da demanda por carne de frango devido à reabertura do comércio fez com que o preço do frango vivo pago ao produtor permanecesse estável na última semana de julho a R$3,90/Kg. Geralmente no final do mês os preços caem em função da redução do poder aquisitivo das famílias.
A Apinco (Associação Brasileira de Produtores de Pinto de Corte) publicou esta semana a estimativa de alojamento de pintos de corte para o mês de junho. A demanda permanece aquecida e a estimativa foi de alta da produção para 550 milhões de cabeças. Para julho, o setor espera que a produção ultrapasse 560 milhões de cabeça, pois a sazonalidade da produção aponta julho como um mês de alta de nascimentos.
Na suinocultura, o aumento da demanda e a baixa oferta de animais prontos para o abate seguem refletindo nas principais bolsas suínas estaduais que fecharam em alta em Santa Catarina (3%), São Paulo (2%), Paraná (16%) e Rio Grande do Sul (5,88%). A bolsa de Minas Gerais não apontou aumento, mas está com cotação bem acima das demais praças.
Já o mercado de ovos manteve-se estável na última semana do mês devido ao aumento do preço da carne bovina e suína, que acabou ampliando a demanda por ovos e evitando queda dos preços.
Lácteos
As principais commodities lácteas mantiveram estabilidade de preço nas negociações ao longo da semana. O leite UHT e o queijo muçarela negociados em São Paulo mantiveram as cotações em alta de R$ 3,23/L e R$ 25,22/Kg, respectivamente.
Em Minas Gerais, principal estado produtor de leite, houve novo aumento no preço do leite entregue em julho a ser pago em agosto, tendência que deve ser seguida pelos demais estados.
Apesar dos bons preços, a captação de leite apresentou seu primeiro aumento desde dezembro de 2019. Somado a isso, alguns laticínios encontraram dificuldades em negociar a preços maiores, elevando assim seus estoques.
Boi gordo
Em relação à Covid-19, as unidades da JBS em Três Passos (RS), da BRF S/A em Lajeado (RS), da Marfrig em Várzea Grande (MT) e a da Minuano em Lajeado (RS), e a planta JBS em Passo Fundo (RS) continuam sem poder exportar para o mercado chinês.
Os altos custos de reposição, atrelados aos altos valores de milho e soja futuros, junto com valores baixistas para @ bovina em meados de março e abril, determinaram a cautela do pecuarista, que preferiu deixar os animais no pasto e não confinar. Isso refletiu no mercado físico atual, com dificuldade para a indústria em conseguir preencher as escalas de abate devido à escassez de animais prontos, elevando o valor da @, que já se aproxima de R$230/@, sem considerar dentição.
Dados da Minerva apontaram queda de 16% dos abates no 2º trimestre de 2020 frente ao 2º trimestre de 2019. O mercado interno continua desaquecido, mas sustentando preços elevados devido à falta de matéria prima.
Pescado
A China habilitou mais três plantas brasileiras de pescado nos estados do Rio de Janeiro, Mato Grosso do Sul e Santa Catarina para exportar para o país asiático, totalizando agora 110 plantas habilitadas.
Cenário internacional
– A Comissão Nacional de Saúde da China registrou 57 casos de Covid-19 transmitidos localmente em 27 de julho. Foi a maior alta de infecções domésticas desde o dia 6 de março de 2020. O número reforça a preocupação das autoridades de Pequim por uma segunda onda de contaminações no país (Reuters World News, 26 de julho de 2020);
– Austrália, Japão e Hong Kong registraram novos picos de contaminações diárias na última semana. O aumento dessa taxa quebra a sequência de semanas de achatamento da curva de infecções, o que aumenta a possibilidade de nova onda de transmissão da Covid-19 em locais que já haviam controlado a epidemia.
No Reino Unido, o primeiro-ministro Boris Johnson alertou empresários britânicos sobre a possibilidade de novo surto entre os meses de setembro e dezembro em videoconferência na última segunda-feira (27/7). O governo espanhol também lida com novo surto de contaminações (Valor Econômico/ Dow Jones Newswire, 28 de julho de 2020);
– O Senado dos Estados Unidos começou a votar novo pacote de estímulo econômico na última segunda-feira (27/7). A proposta dos republicanos prevê a injeção de US$ 1 trilhão para ajudar a reaquecer a economia do país. O texto inclui pagamentos diretos de US$ 1.200 para os americanos mais afetados pela crise. Paralelamente, o Partido Democrata tem proposta de US$ 3 bilhões em tramitação na Câmara dos Deputados (CNN International, 28 de julho de 2020);
– A China habilitou a exportação de pescados de mais três plantas brasileiras na última semana. As novas habilitações aumentam para 110 o número de frigoríficos que podem embarcar peixes para os portos chineses (Valor Econômico, 27 de julho de 2020);
– O indicador de preço do cacau na Bolsa de Nova Iorque fechou o semestre em queda de 15%. O valor de US$ 2150 por tonelada é o mais baixo dos últimos 15 meses. Já o processamento mundial de cacau caiu 8,2% entre abril e julho de 2020. É a pior queda desde 2014. A Lindt prevê redução de 5% a 7% nas vendas de chocolate em 2020. A marca suíça é a maior fabricante de chocolate do mundo.
O aumento do consumo das chamadas comfort foods não foi suficiente para compensar a queda da demanda por chocolate durante a pandemia. Os lockdowns fecharam as portas de restaurantes, bares e lojas em aeroportos mundo afora. A redução do preço do cacau já preocupa os governos de Gana e da Costa do Marfim (Financial Times, 30 de julho de 2020);
– O Produto Interno Bruto (PIB) da Alemanha recuou 10,1% no segundo trimestre de 2020. A comparação é com o período de janeiro a março deste ano. Foi a pior contração desde 1970. O estrago foi ainda pior no outro lado do Atlântico. A pandemia resultou no pior segundo trimestre para a economia dos Estados Unidos desde a Grande Depressão, em 1929: queda de 32,9% em relação aos três primeiros meses do ano (BBC News, 30 de julho de 2020);
– O site do governo da Coreia do Sul publicou petição que cobra ação das autoridades de Seoul sobre a possibilidade de presença de coronavírus em embalagens de carnes. O texto menciona a suspensão da China de importações de frigoríficos do Brasil, Alemanha, Estados Unidos e Reino Unido. Também menciona a detecção de Covid-19 em embalagens de camarão congelado do Equador. A petição precisa de 200 assinaturas para obrigar resposta da presidência sul-coreana (Divisão de Promoção do Agronegócio-II (DPA-II), 27 de julho de 2020).
Fonte CNA