Comitê interministerial responsável pela coordenação do programa de conversão de pastagens degradadas vai discutir a possibilidade de a União fazer um aporte inicial e assim atrair investimentos internacionais
O comitê interministerial responsável pela coordenação do programa de conversão de pastagens degradadas vai discutir a possibilidade de a União realizar um aporte financeiro para dar tração inicial ao plano este ano e atrair investimentos internacionais para financiar a recuperação de até 40 milhões de hectares pelo país. O grupo discutirá o tema em reunião na quinta-feira, 25.
“Pode ser algo oportuno a se pensar que o governo brasileiro coloque um recurso inicial para o programa pegar tração e continuar atraindo os investidores internacionais”, afirmou o secretário de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, Roberto Perosa. “A função do governo é catapultar tudo isso. A possibilidade de o governo brasileiro dar um sinal, talvez em parceria com o Banco do Brasil, pode dar um impulso ao programa”.
Perosa: “Nosso trabalho é intensificar a busca por recursos mais baratos” — Foto: Divulgação
Os membros do comitê já têm um valor em mente, mas o montante não foi revelado. A ideia é que o governo ajude com a equalização dos juros dos financiamentos, como nas linhas subsidiadas do Plano Safra. Mas isso depende de disponibilidade orçamentária e negociação com a equipe econômica.
“Essa medida seria para mostrar para o mundo que o governo brasileiro também está fazendo um esforço para que o programa aconteça, porque além da segurança alimentar, retira a pressão de desmatamento sobre a Amazônia”, analisou. “Temos que avaliar disponibilidade de caixa, mas tudo que conseguirmos colocar vai potencializar o acesso aos recursos”, disse Perosa. Ele é um dos representantes da Pasta no grupo ao lado do assessor especial, Carlos Augustin.
Segundo estimativa do BB repassada ao secretário, cada R$ 1 aplicado pelo governo pode alavancar R$ 4 em operações de financiamentos para conversão de pastagens. Vários fundos e empresas já demonstraram interesse em participar do programa, disse Perosa. Representantes da Agência de Cooperação Internacional do Japão (Jica) devem vir ao Brasil neste início de ano para discutir detalhes de um projeto de investimento nessa área.
“Estamos aguardando a chegada de recursos do Banco Mundial e estamos em conversas com o Eximbank, da Coreia do Sul, para viabilizar mais recursos nessa frente para recuperação de pastagens”, afirmou Francisco Lassalvia, vice-presidente de Negócios de Atacado do BB. O aporte do banco coreano deverá ser de US$ 200 milhões, apurou a reportagem.
“Atuamos de forma ativa na captação de recursos para a aplicação em diversas frentes ESG no país. Em meados do ano passado, realizamos uma série de reuniões pela Ásia, pelos Estados Unidos e Europa, além de reuniões durante o FMI no Marrocos e na COP 28 em Dubai. Foram agendas de bastante êxito e que seguem gerando bons frutos”, completou Lassalvia.
O programa foi pensado para rodar com recursos privados estrangeiros, mas o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, já admitiu que poderia haver aporte orçamentário do governo, neste início.
Segundo Roberto Perosa, o programa “já está em andamento”, mas o desafio é costurar medidas para que os juros sejam reduzidos. “O nosso trabalho é intensificar a busca por recursos mais baratos, temos que rodar mais o mundo”, afirmou. As taxas finais ideais seriam próximas de 4% ao ano, para empréstimos com três anos de carência e 12 anos para pagamento.
Ele disse que há “diferentes olhares” dos investidores para o programa de conversão de pastagens. Em países europeus, o interesse é apoiar a preservação ambiental. Nações árabes e asiáticas têm foco na segurança alimentar. “São diferentes possibilidades. Em geral, são fundos soberanos, e não especulativos, que têm outras diretrizes além do retorno econômico”, concluiu Perosa.
O comitê é formado por seis ministérios, Banco Central, Comissão de Valores Mobiliários (CVM), Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Também foram indicados representantes do setor agropecuário, da agricultura familiar e da sociedade civil.