CNA discute importância da agricultura irrigada no desenvolvimento regional do Brasil
Isolda Monteiro
30 de outubro de 2020
A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) promoveu, na quinta (29), uma conversa ao vivo pelas redes sociais para discutir a importância da agricultura irrigada no desenvolvimento regional do país.
Participaram da live a diretora do Departamento de Desenvolvimento Regional e Urbano do MDR, Adriana Melo, o diretor da Esalq/USP, Durval Dourado Neto, e o secretário executivo do Agronegócio do Estado do Ceará, Silvio Ribeiro Lima.
A assessora técnica da CNA, Vanessa Prezotto Silveira, foi a moderadora do debate e afirmou que o Brasil possui quase 16% de vazão hídrica global e que a agricultura irrigada utiliza aproximadamente 3% dessa vazão, com a devida permissão concedida pela outorga.
“A outorga de uso da água é um processo complexo e que leva em consideração o que está priorizado em lei. A agricultura utiliza o que é autorizado pelos entes reguladores e fiscalizadores”.
Para Vanessa, em uma situação de escassez hídrica, a irrigação é uma ferramenta fundamental para a garantia de produção de alimentos. “O Brasil tem 7 milhões de hectares de área irrigada, mas tem potencial para ampliar. Precisamos de políticas que resolvam os entraves da expansão dessa tecnologia no país”.
Em sua apresentação, Adriana Melo disse que o Brasil é um país desigual em relação ao desenvolvimento. “Infelizmente muitas regiões ainda não conseguiram estimular suas vocações produtivas e a agricultura irrigada é uma estratégia para alavancar o desenvolvimento regional, proporcionando diversificação econômica e agregação de valor dos produtos agrícolas”.
A representante do Ministério do Desenvolvimento Regional destacou que, historicamente, a irrigação foi o ponto de partida para o desenvolvimento econômico de algumas regiões. “Essa tecnologia mudou a realidade de Petrolina (PE) e Mossoró (RN), por exemplo, que hoje são considerados polos de fruticultura”.
Durante a live, Silvio Ribeiro Lima falou sobre como a irrigação é importante para o desenvolvimento econômico no semiárido nordestino. “O Ceará possui diversas características que favorecem a produção irrigada, como localização estratégica no Atlântico, infraestrutura portuária e aeroportuária, área livre de pragas (mosca-da-fruta) e energia eólica e solar”.
Segundo Lima, o estado cearense também tem boa estrutura para reservação hídrica, mas a falta de água e chuva limita a produção agrícola. “Nós focamos em setores e produtos de maior valor econômico e que demandam menor uso de água. Entretanto, sabemos que a irrigação agrega valor e potencializa o Valor Bruto da Produção (VBP)”.
Já o professor Durval Dourado Neto destacou o papel do Brasil no fornecimento mundial de alimentos. “De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), em 2050, a população mundial alcançará 9,8 bilhões de pessoas e o Brasil tem a missão de atender a demanda por alimentos”.
Durval explicou que, para atender a demanda mundial, o Brasil poderia converter parte da área de pastagem, que hoje é cerca de 180 milhões de hectares, em agricultura. Dessa forma, não seria necessária a expansão de novas áreas.
“Nós poderíamos dobrar a área de agricultura de 80 milhões para 160 milhões e manter o rebanho nos 100 milhões de hectares remanescentes. Parte dessa área poderia ser irrigada, o que seria uma grande oportunidade de ampliar a área irrigada para 20 milhões de hectares. Isso representaria segurança alimentar, ambiental e social“.
Na conversa, o diretor da Esalq/USP citou alguns sistemas de alta tecnologia e exemplos de pivôs centrais utilizados na irrigação, como controle de giro, taxa variável, painéis inteligentes, automação total, pivô corner e sistema de movimentação contínua. “A irrigação é uma oportunidade para o desenvolvimento do Brasil. Deveríamos pensar mais em ser líderes de tecnologia de agricultura irrigada”.